Além do Maracatu de Baque Virado existem outras manifestações da Cultura Popular Brasileira que levam o nome de Maracatu, ou como é dito popularmente, existem outros tipos de Maracatu, diferentes do ponto de vista da estrutura, dos personagens e das características musicais. São eles o Maracatu de Baque Solto também chamado de Maracatu Rural ou de Orquestra e o Maracatu Cearense.

O Maracatu Rural

O Maracatu Rural também é uma brincadeira que se originou onde hoje é o estado de Pernambuco, provavelmente entre os séculos XIX e XX. Como no Maracatu Nação, este possui um setor responsável pela execução da música e outro formado por personagens caracterizados, mas seus personagens, sua música, seus instrumentos e suas apresentações são completamente diferentes.

No Maracatu Rural a parte musical conta com um conjunto de metais (clarinete, saxofone, trombone, corneta ou pistom), além da percussão formada normalmente por tarol ou caixa, surdo, ganzá, chocalhos, porca (cuíca), zabumba e gonguê. O ritmo é mais acelerado em relação ao Maracatu Nação e o coro é exclusivamente feminino.

Entre os personagens estão Reis, Rainhas, Catirinas, Damas do Passo, Caboclos de Pena e outros mais. Nos últimos anos tem ganhado bastante destaque a figura do Caboclos de Lança, que além de realizar sua dança movendo sua lança em todas as direções, levam nas costas chocalhos (que também podemos chamar de guisos ou sinetas), dando a marcação acelerada do Maracatu de Baque Solto.

 Veja também alguns links com textos que tratam do Maracatu Rural e uma lista de vídeos sobre o assunto:

texto no site da Fundação Joaquim Nabuco

texto de Marcilo Ramos no blog pernambucobeat.com

sobre Mestre Salustiano Fundador do Maracatu Rural Piaba de Ouro

Lista de Vídeos sobre Maracatu Rural

Um outro olhar

 

 

“O maracatu rural não tem origem nas festas do Rosário. O maracatu rural é uma mistura de várias manifestações. O maracatu rural tem alguma coisa de bumba-meu-boi, tem alguma coisa de congada, de cavalo-marinho. E aquelas entidades que são os caboclos de lança, eles falam muito de “malunguinho”, de “malungo”, não sei se teria alguma coisa a ver com aquele quilombo do Catucá. Era um quilombo que tinha a partir dessa mata daqui [Dois Irmãos] e ia até Goiana. Pra ser mais certo, a mata de Brejo de Macaco. Os quilombolas tomaram conta até a abolição da escravatura. Chegaram até a espantar uma colonização Alemã, que colocaram em Pernambuco. Eles dizimaram os colonos alemães, no final do século XIX. Nesse livro aqui [Documentos para a História da Escravidão Negra] eu mostro um trabalho meu, um levantamento sobre o quilombo dos Catucás, acho que no volume I. É, Quilombo dos Catucás, página 71.

Você já viu um maracatu rural desfilar ? Se foi em Olinda no carnaval, então você não viu. Na rua não dá pra desfilar. O maracatu rural você só vai ver se você descer pra zona da mata, como eles desfilam. E não é só Nazaré da Mata, tem que descer mais pra zona rural. Ele gira como se fosse uma cobra assim ó… Inclusive o andamento é assim [cantarola, imitando um trombone] pá-pá-pá-páááá…. Não tem nada de maracatu [nação] aí, só o nome. A cuíca, que ele chama a porca, um trombone fazendo… Tanto é que quem inventou esse termo maracatu rural foi Katarina Real, o título original era maracatu “de trombone”. Não é nem “de orquestra”, o povo chamava de maracatu de trombone, não é de orquestra não. Orquestra já é negócio de jornalista. Como maracatu de baque virado também já é invenção de jornalista. Os mais puristas chamavam aquilo de nação, ou maracatu. Então o maracatu rural não tem rei, não tem rainha, não tem pálio. Botaram pálio, botaram, rei ,rainha, aquele negócio de umbela, é coisa recente. É tudo influência recente, não tem 10 anos.

[Mostra foto antiga de um maracatu rural] Tá vendo como ele desfila ? Tem as baianas, você na vê rei, não vê rainha. A caboclada faz mais como se fosse uma cobra, pra abrir alas, pra abrir a multidão, e antigamente era pra proteger mesmo o maracatu, porque se viesse um maracatu rival, tinham a caboclada pra defender. [A lança se chama] guiada. Tem o caboclo de pena que, que geralmente é ligado à linha de jurema, aqueles que se chamam caboclo de Arreiamá ou Tuxáu.”

Fonte: www.leaocoroado.org.br

Leonardo Dantas Silva
(entrevista especial para o site do Leão Coroado)
Editora Massangana, Apipucos, Recife
Sexta-feira, 17 de agosto de 2001

O Maracatu Cearense

o Maracatu Cearense, que também é uma brincadeira que tem na sua estrutura o desfile de uma corte seguida por percussão, apresenta características que não podemos encontrar nos outros “tipos de Maracatu”, entre elas chama a atenção o rosto pintado de preto dos brincantes e o baque lento e cadenciado. Os conhecedores e estudiosas de Cultura Popular ainda destacariam os personagens como o Balaieiro e o casal de Pretos Velhos.

Assim como no Maracatu de Baque Virado existem divergências sobre as primeiras ocorrências do Maracatu do Ceará. Parecem não existir registros confiáveis antes de 1950, no entanto estudiosos afirmam que ele surgiu dos Autos do Congo, prática que estaria presente no Estado já em meados do século XIX, tendo ligação com as Irmandades do Rosário. Vale destacar que já no século XVIII mais precisamente em 1730 foi fundada em Fortaleza uma Igreja de Nossa Senhora do Rosário, construída de certo por uma Irmandade.

Existe ainda em Fortaleza um museu dedicado ao Maracatu Cearense, que funciona nos fundos do Teatro São José e conta com mais de 200 peças entre vestuário, objetos de senzala, instrumentos e personagens. O endereço é Rua Rufino de Alencar 362, e o telefone é (085) 3231-5447.

Veja alguns vídeos sobre o Maracatu Cearense:

Maracatu Az de Ouro – Entre Loas e Batuques

Primeira Parte

Segunda Parte

Documentário produzido por estudantes do projeto audiovisual do Ponto de Cultura Roteiro de Luz.

Desfile do Maracatu Nação Fortaleza – Carnaval de 2006

Vídeo publicado pelo pesquisador e musicista Calé Alencar

Veja também alguns links com textos que tratam do Maracatu Cearense:

Texto no site Ceará de Luz

Estudo de Ana Claudia Rodrigues da Silva – este link é para um documento em PDF de cerca de 150 páginas, um longo e rico texto sobre os Maracatus Cearenses.

Site do Maracatu Nação Fortaleza – também tem bastante informação sobre o Maracatu do Ceará.

Blog do Maracatu Vozes da África – conta com notícias, vídeos e agenda de suas atividades.

Matéria no Jornal Diário do Nordeste.

 

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